Saúde Animal

Efeito da reação pós vacinal de diferentes cepas contra a Doença de Newcastle

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Francisco de Assis L. Souza

Jéssica de Torres Bandeira

Joaquim Evêncio Neto

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Efeito da reação pós vacinal de diferentes cepas contra a Doença de Newcastle

A Doença de Newcastle (DN) é uma infecção viral altamente contagiosa que afeta o sistema nervoso, respiratório e digestório das aves (FLORES et al. 2006), transmitida principalmente pelo contato direto entre as aves. Esta doença está presente no mundo todo, inclusive no Brasil de forma endêmica. Pode gerar grandes perdas econômicas na avicultura industrial com eliminação de milhares de aves e restrições nas importações e exportações (RAUW et al. 2009). 

A principal forma de prevenção da DN é a vacinação, atualmente as vacinas comerciais que existem disponíveis contra a DN são vacinas vivas atenuadas, vacinas inativadas e vacinas vetorizadas (BERMUDEZ et al. 2003, MARANGON et al. 2006). 

  • Tipos de Vacinas contra DN

As vacinas atuam principalmente no sistema respiratório das aves e/ou epitélio intestinal, irá variar de acordo com a vacina escolhida. As vacinas vivas atenuadas, têm como principal desvantagem a patogenicidade residual e seus efeitos adversos, especialmente em animais jovens. 

As vacinas inativadas são comumente destinadas a imunização de aves de ciclo longo, onde exige a permanência do antígeno por mais tempo a fim de promover uma resposta imune duradoura, assim, não são muito utilizadas no Brasil. 

Pesquisas moleculares proporcionaram o desenvolvimento de um novo grupo de vacinas, as chamadas vacinas vetorizadas, que diminuem as reações pós-vacinais, reduzem a excreção de vírus no campo, sem a interferência de anticorpos maternais por período prolongado (> 70 semanas), e não interferem na resposta imune para outras enfermidades (PALYA et al. 2014).

A reação pós vacinal esperada são espirros leves na maioria das aves entre três e cinco dias após a vacinação, passado este período as aves devem apresentar um quadro de recuperação, esta reação acontece ao vacinarmos as aves com vírus vivo atenuado (BERNARDINHO, 2004), quando a reação pós vacinal se torna exacerbada implica em comprometimento do desempenho zootécnico das aves e quadros patológicos.

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Efeito da reação pós vacinal de diferentes cepas contra a Doença de Newcastle

Rocha et al. (2022) realizaram um estudo testando as principais vacinas contra a Doença de Newcastle disponíveis no mercado, simulando condições de criação de frango de corte à campo por meio da avaliação da resposta vacinal no epitélio traqueal. 

As vacinas foram:

No mesmo trabalho, os autores verificaram que a vacina vetorizada foi a que gerou menos reação vacinal, pois não apresentou espessamento de mucosa traqueal significativo em nenhuma etapa do ciclo de criação das aves, o mínimo espessamento observado neste tipo de vacina é relacionado aos fatores ambientais como amônia e poeira. 

Nas demais vacinas ocorreram espessamentos significativos, esses espessamentos da mucosa traqueal ocorrem devido ao processo de replicação das cepas vacinais lentogênicas pneumotrópicas que possuem tropismo respiratório, replicando-se especialmente na mucosa da traqueia e causando lesões inflamatórias que promovem o espessamento da mesma (ABDUL-AZIZ e ARP 1983). 

No entanto, mesmo possuindo tropismo pela mucosa intestinal, as vacinas lentogênicas enterotrópicas apresentam baixa replicação na mucosa traqueal como foi observado por (ABDUL-AZIZ e ARP 1983, ALEXANDER 1991, BORNE e COMTE 2003).

Para análise histomorfométrica da mucosa traqueal foi utilizado o protocolo de Nunes et al. (2002), sendo as lâminas observadas e fotografadas em objetiva de 40X em um microscópio óptico trinocular DM500 Leica®. As mensurações da espessura da mucosa traqueal, foram realizadas em dez diferentes pontos equidistantes 100µm entre si, utilizando o software Image J®. – colocar uma letra A no início da seta e B no término da seta.

Fig.1. Análise histopatológica da mucosa traqueal de aves de sete dias de idade vacinadas com a cepa LaSota por via spray. Infiltrado inflamatório mononuclear multifocal moderado na lâmina própria e no epitélio respiratório e desciliação difusa das células epiteliais. HE.

 

Dentre as aves vacinadas com a cepa PHY.LMV.42 por via ocular ou por via spray, somente no 14º dia pós-vacinal verificou-se aumento na espessura traqueal, principalmente devido à inflamação local. Já aos 21 dias a via ocular apresentou diminuição da espessura da mucosa traqueal, isso pode ter ocorrido porque permite que a ave ingira a vacina através da fenda palatina, dessa forma, um maior número de partículas virais chega ao epitélio entérico (BORNE e COMTE, 2003).

Já os grupos vacinados com a cepa La Sota tanto via ocular no 4º dia pós-vacinal foi possível observar um maior espessamento da mucosa dos animais. No 21º dia pós-vacinal, as aves vacinadas via spray que apresentaram maior espessura de mucosa traqueal. Esse resultado pode ser explicado pelo fato dessa vacina penetrar mais profundamente nas vias respiratórias das aves e com o fato de ser uma cepa pneumotrópica, o que já havia sido observado no trabalho de Stewart-Brown (1995).

Aos 14 dias a cepa La Sota via ocular apresentou maior espessura da mucosa traqueal comparada ao Sorotipo 3 (p<0,05), mantendo sua maior agressividade (Figura 2). 

Fig. 2. Análise histopatológica da mucosa traqueal de aves de 14 dias – Vetorizada (Sorotipo 3), Viva atenuada (PHY.LMV.42) e Viva atenuada (La Sota)

Já aos 21 dias foi possível observar que os animais vacinados com cepa PHY.LMV.42 por via ocular e com a cepa La Sota por via spray apresentaram maior espessamento da mucosa da traqueia comparada ao Sorotipo 3 (p<0,05), sendo visível a qualidade superior da Sorotipo 3 em provocar um menor espessamento da mucosa (Figura 3). 

Fig. 3. Análise histopatológica da mucosa traqueal de aves de 21 dias de idade – Vetorizada (Sorotipo 3), Viva atenuada (PHY.LMV.42) e Viva atenuada (La Sota)

Este achado referente a cepa PHY.LMV.42 demonstra que apesar das estirpes entéricas apatogênicas se replicarem principalmente no trato intestinal, também existe replicação no trato respiratório (SATRA 2011). 

 

Sendo assim, é importante ressaltar o enorme avanço ocorrido do desenvolvimento de vacinas contra a DN, uma vez que hoje o mercado dispõe de vacinas de alta tecnologia, como as vacinas vetorizadas, amplamente difundidas no mundo, que conseguem controlar o vírus de Newcastle velogênico sem desencadear haver efeitos colaterais. Além disso, diferente das vacinas vivas, as vacinas vetorizadas promovem uma imunidade duradora, protegendo a ave por toda vida, sem necessidade de refazer vacinações. Muito importante para aves de vida longa.

Sendo assim, este trabalho de Rocha et al. (2022) demonstrou que a vacina La Sota produz maiores reações pós-vacinais, principalmente a aplicada via spray, logo, ela não é recomendada para vacinações preliminares (GLISSON e KLENVEN, 1997), e que a vacina vetorizada produziu as menores reações pós-vacinais, preservando mais a mucosa traqueal e assim assegurando uma melhor barreira de defesa as aves, sendo a melhor opção para imunização das aves contra a Doença de Newcastle.

Efeito da reação pós vacinal de diferentes cepas contra a Doença de Newcastle

Em caso de dúvida ou necessidade de mais referências bibliográficas, favor consultar a autora (Priscilla Rocha – [email protected]).

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