Para ler mais conteúdo de aviNews Brasil Dezembro 2021
Os avanços tecnológicos, a dinâmica variável do mercado e a alta competitividade entre as corporações tem estimulado as organizações a melhorarem continuamente seus processos para a sustentabilidade do negócio.
Dessa forma, a gestão da eficiência dos processos produtivos permite a identificação e a resolução dos problemas para eliminar perdas e desperdícios (RAPOSO, 2011).
Um dos indicadores mais utilizados nas indústrias para a avaliação de eficiência (o mapeamento das perdas produtivas e a identificação de oportunidades de melhoria) é conhecido como Eficiência Geral do Equipamento (OEE – Overall Equipment Effectiveness) (AMINUDDIN et al., 2015).
Também conhecido como Eficiência Total do Equipamento ou Máquina, o OEE foi criado pelo engenheiro Japonês Seiichi Nakagima em 1982 e é uma das principais partes do TPM (Manutenção Produtiva Total).
A aplicação da metodologia do OEE desempenha a função de um indicador de desempenho global, envolvendo 3 fatores que impactam na produtividade de um processo (VINHA; MOTA, 2014):
Neste fator estão refletidos os fenômenos que afetam a disponibilidade dos equipamentos e, consequentemente, interrompem uma linha de produção. Em geral, contempla-se:
Os principais motivos que impactam o fator de disponibilidade nos abatedouros são:
Falhas operacionais de processo
Falta de recursos para viabilizar as linhas de produção, tais como faltas de insumos e matéria-prima e
Quebras de equipamentos
Hansen (2006) descreve que muitos dos custos de produção estão ligados às perdas no processo. Com isso, o OEE auxilia na identificação destas despesas que muitas das vezes estão ocultas.
Em 2020 e 2021, a indústria deixou de abater uma média aproximada de 76 milhões de aves por ano devido às paradas de produção relacionadas à disponibilidade (Figura 1).
De acordo com Reyes (2021), a maior parte das falhas operacionais nas organizações estão fortemente relacionadas aos fatores ambientais e também à ausência, ou incompreensão dos procedimentos formalizados na organização, como é proposto pela teoria da Gestão da Qualidade Total.
Na falta de recursos, a matéria-prima é um dos fatores que mais impactam na eficiência. Esse fato se deve a uma menor capacidade de alojamento de aves no campo, do que a capacidade de abate que hoje as fábricas possuem.
Segundo a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a agroindústria está em constante avanço tecnológico, o que muito contribui para o desenvolvimento do ramo, mas demanda investimentos e readequações constantes nos aviários, limitando os produtores a adequarem suas estruturas para atender a demanda industrial.
Principais motivos de paradas de processo por quebras de equipamento em 2020 e 2021: Nóreas representaram 27% Túnel de congelamento contínuo representou 12% Transferidor de aves e esteiras transportadoras representaram 11% |
O aperfeiçoamento da gestão da manutenção permite também um aumento na eficiência operacional uma vez que a baixa performance dos equipamentos piora a qualidade do produto e reduz a produtividade.
Definir consistentemente as estratégias de manutenção, aumenta a confiabilidade das máquinas e também, por consequência, a disponibilidade (GONÇALVES JR; RIBEIRO e FRANCO, 2015). |
DESEMPENHO
Toda linha de manufatura possui uma capacidade máxima que está relacionada ao tempo do que é produzido na linha.
O índice de desempenho nada mais é que a porcentagem da velocidade de produção atual em relação à velocidade com que os equipamentos do processo foram projetados.
Principais perdas que afetam o desempenho envolvem, principalmente:
Em 2020, estima-se que as ineficiências de abate por desempenho representaram uma perda produtiva de cerca de 40 milhões de aves. Já em 2021, totalizou cerca 24 milhões de aves até o fechamento do terceiro trimestre.
Os problemas com qualidade de carcaças estão relacionados ao manejo inadequado das aves vivas durante todo o processo agropecuário, incluindo o transporte e as etapas de pré-abate na indústria (Costa & Chiquitelli Neto, 2003).
De acordo com comunicado divulgado pelas Academias Francesas de Medicina Veterinária e de Medicina, surtos de COVID-19 desde o início da pandemia em 2020 foram registrados entre os trabalhadores de frigoríficos, especialmente aves e suínos de vários países, incluindo:
França, Alemanha, Holanda, Irlanda, Austrália, Reino Unido, Estados Unidos, Canadá e Brasil.
A qualidade da carcaça é fator determinante para os índices de condenações pelo serviço de inspeção no abatedouro e, em casos de má qualidade, as linhas de abate podem ser reduzidas para possibilitar o processamento adequado das mesmas. |
Com o avanço dos casos de COVID-19 entre os trabalhadores de frigoríficos brasileiros, os Ministérios da Economia (ME), Saúde (MS), e Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) publicaram o manual “Orientações Gerais para Frigoríficos em razão da Pandemia da COVID-19”, contendo uma série de medidas aos empregadores e aos trabalhadores a fim de prevenir e diminuir a transmissão do vírus SARS-CoV-2 nos ambientes de trabalho.
O objetivo é manter:
Normalidade do abastecimento de alimentos seguros à população
Empregos
Atividade econômica do setor
Após aplicação das orientações ministeriais nas fábricas e também com o aumento da vacinação contra COVID-19 no Brasil, o percentual de ineficiência produtiva por esse motivo reduziu de 37,5% em 2020 para 3,4% em 2021.
QUALIDADE
Os produtos gerados nas indústrias seguem vários parâmetros e padrões previamente definidos pela empresa e clientes. Se, por algum motivo não atingirem tais padrões esperados, são considerados como perdas ou refugos.
Dessa forma, os problemas de qualidade estão relacionados a reduções produtivas para atender os padrões de produtos. |
Em 2020, as perdas por motivos de qualidade impactaram em 2,8% na produção, reduzindo cerca de 3 milhões de aves no ano.
Já em 2021, atingiu o índice de 4% com uma perda de volume estimada em 5 milhões de aves até o fechamento do último trimestre.
Em geral, esses impactos estão associados às perdas de produção por má qualidade de embalagens e insumos, o que exige retrabalhos para atender os padrões.
COMO CALCULAR O OEE?
Hansen (2006) afirma que atingir índices de Disponibilidade, Qualidade e Desempenho de 90%, 95% e 99%, respectivamente, permite-se obter um bom valor para fabricação típica de 85% (Figura 4). Se estes valores estiverem em equilíbrio, a organização apresenta bom rendimento.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o volume de abate de aves no Brasil teve aumento de 1,2% ao comparar os dados obtidos no segundo trimestre de 2020 e de 2021.
Na Figura 5 foram compilados os índices de OEE entre os anos de 2020 e 2021, relativos a 30 abatedouros de aves, distribuídos em 9 diferentes estados brasileiros. Os processos avaliados tiveram evolução de 1,7% do ano passado para o atual.
Apesar do notório crescimento produtivo, as indústrias ainda enfrentam grandes desafios que prejudicam as entregas de produção. |
Na Figura 6 foram compilados os resultados percentuais de paradas de produção entre os anos de 2020 e 2021 e mostram o impacto de cada fator na eficiência de produção.
As paradas de produção relacionadas à disponibilidade compreendem cerca de 73% dos casos em 2021, seguido por motivos de desempenho (26% do tempo parado) e, por último, 1% referentes a problemas de qualidade. |
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com projeções do MAPA, o consumo mundial de carne de frango deve ter um aumento de 27,6% até o ano de 2030.
Com esse cenário próspero, aumentam os desafios da agroindústria para se preparar e atender essa demanda de consumo.
Certamente, as indústrias que hoje utilizam o OEE como indicador de performance de produção terão maiores condições de identificar suas fragilidades e serão mais assertivas nas ações estratégicas, para eliminar as causas de interrupções de processos e gargalos de produção. |
Além de tudo, outros benefícios podem ser oferecidos:
Ganho de 1% no OEE pode representar aumento de 3% a 7% no resultado financeiro;
Aumento de uso dos ativos instalados;
Melhor gestão de custos operacionais;
Aumento na confiabilidade da fábrica;
Redução dos custos de manutenção;
Melhores índices de qualidade de produto;
Redução de desperdícios, refugos e retrabalhos.
Durante o processo de produção sempre haverá alguma restrição e o OEE deve ser aplicado nos gargalos que afetam a linha de manufatura.
Referências sob consulta junto aos autores.