Em muitas regiões ao redor do mundo, as condições climáticas podem ser inimigas da produção de proteína animal, prejudicando o desempenho dos animais e ocasionando prejuízos financeiros.
As elevadas temperaturas registradas no Brasil todos os anos geram um desafio para o setor, pois os animais de produção, aves, suínos e ruminantes, são suscetíveis ao estresse térmico.
Neste sentido, é preciso manter os animais em condições de temperatura e umidade que se enquadrem nas condições de conforto térmico de cada espécie para que os mesmos consigam expressar seu máximo potencial de desempenho. |
O estresse térmico é uma resposta fisiológica do efeito combinado da alta temperatura ambiente e da alta umidade relativa do ar. O aumento da umidade relativa do ar, independente da temperatura, sempre prejudica o bem-estar animal e é provável que provoque o estresse térmico.
O estresse térmico ocorre quando o animal está fora de sua zona termoneutra e luta para regular sua temperatura corporal. Consequentemente, a saúde, o bem-estar e o desempenho dos animais são afetados negativamente. |
As raças de aves modernas são mais propensas ao estresse térmico do que as raças antigas devido:
Ao seu maior consumo de ração,
Altas taxas metabólicas,
Aumento da produção basal de calor metabólico,
Crescimento rápido e um alto nível geral de produtividade.
Além disso, as aves não possuem glândulas sudoríparas e a pele é eficientemente isolada por penas, impedindo a perda de calor.
As aves tentam se adaptar ao estresse térmico aumentando sua taxa respiratória, levantando as asas, aumentando a temperatura corporal e reduzindo a atividade.
Para remover o calor do corpo, o fluxo sanguíneo é direcionado para longe do trato gastrointestinal (TGI) em direção à pele, crista e barbela, prejudicando a absorção de nutrientes.
Adicionalmente, para reduzir a produção de calor metabólico as aves reduzem o consumo de ração. Todavia, a combinação desses fatores prejudica o desempenho das aves. |
O estresse térmico e a inflamação intestinal andam lado a lado acarretando consequências negativas sobre a função de barreira intestinal, prejudicando a integridade intestinal e aumentando os riscos de translocação bacteriana do lúmen intestinal para a corrente sanguínea.
O impacto do estresse térmico em frangos de corte pode ser mensurado utilizando diferentes fatores, como:
Citocinas pró-inflamatórias (resposta inflamatória),
Corticosterona (resposta ao estresse),
FITC-dextran ou proteínas das tight junctions (marcadores para integridade intestinal) e, claro,
Desempenho, incluindo o consumo de ração.
Em um cenário de proibições e restrições do uso de antibióticos como promotores de crescimento somado aos desafios que as condições ambientais proporcionam, a busca por alternativas naturais está alinhada com a demanda do mercado. |
Os aditivos fitogênicos, como os extratos vegetais, se enquadram perfeitamente com esta demanda e são considerados uma alternativa promissora.
O extrato da planta Macleaya cordata é considerado um aditivo fitogênico composto por alcaloides isoquinolínicos (IQs), como a sanguinarina, e possui efeitos positivos sobre o controle da inflamação intestinal e da função de barreira intestinal, refletindo na melhora dos parâmetros de desempenho zootécnico.
Pesquisas científicas comprovam seus efeitos em frangos de corte sob condições de estresse térmico, aumentando o ganho de peso e melhorando a conversão alimentar das aves, além de diminuir a permeabilidade intestinal melhorando a função de barreira intestinal. |
Com o objetivo de avaliar os efeitos dos IQs em frangos de corte criados sob condições naturais de estresse térmico, 720 frangos machos Ross 308 foram aleatoriamente distribuídos em três tratamentos:
As aves foram mantidas em baias em um galpão aberto durante o verão em uma área de clima tropical. Durante o período de teste de 42 dias, a temperatura variou entre 33,0 e 35,0°C, enquanto a umidade variou entre 70 e 75%. No dia 35, 8 aves por tratamento foram sacrificadas para avaliar o estado inflamatório e de estresse, bem como a integridade intestinal.
Para a avaliação da inflamação intestinal foi mensurada a expressão de genes inflamatórios no íleo (NF-κB e TNF-α). O NF-κB é um fator que ativa a transcrição de genes imunomoduladores de citocinas pró-inflamatórias, como o TNF-α.
Os resultados demonstraram que frangos de corte criados sob condições de estresse térmico alimentados com IQs apresentaram redução (P<0,05) da expressão tanto de NF-κB quanto de TNF-α, indicando o efeito anti-inflamatório dos IQs.
Como consequência, a integridade intestinal foi melhorada, conforme indicado pelos níveis mais baixos do FITC-dextran (P<0,05), uma vez que o FITC-dextran só consegue passar do lúmen intestinal para a corrente sanguínea se a integridade intestinal estiver prejudicada (Figura 1).
Os mecanismos de ação dos IQs responsáveis pelos resultados demonstrados anteriormente já foram cientificamente comprovados. A sanguinarina, por exemplo, inibe as Na+/K+ ATPases celulares, que são importantes contribuintes para a termogênese e, portanto, pode fornecer uma abordagem para mitigar o estresse térmico.
Além disso, a sanguinarina têm propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias que podem neutralizar o estresse oxidativo, a inflamação e a ruptura da mucosa do TGI prevalentes durante o estresse térmico. O efeito anti-inflamatório dos IQs está na sua capacidade de inibir a ativação do NF-κB e assim interromper as etapas subsequentes da resposta inflamatória. |
Corticosterona é um hormônio liberado durante a resposta ao estresse e sua concentração plasmática pode ser utilizada para mensurar o nível de estresse dos animais. As aves alimentadas com IQs apresentaram níveis plasmáticos de corticosterona reduzidos (P<0,05) em condições de estresse térmico, indicando redução dos níveis de estresse.
Como resultado do controle da inflamação, da melhora da integridade intestinal e da redução do estresse, o consumo de ração e o peso vivo final dos frangos de corte alimentados com IQs foram estatisticamente superiores (P<0,05), resultando em um melhor desempenho (Figura 2).
Logo, podemos afirmar que estresse térmico está associado à inflamação intestinal, integridade intestinal prejudicada e pior desempenho.
Todavia, os IQs diminuem a inflamação e a permeabilidade intestinal e o estresse, resultando na melhora dos parâmetros de desempenho, como maior consumo de ração e peso vivo.
Portanto, concluímos que os IQs são capazes de mitigar os impactos negativos do estresse térmico em frangos de corte e são uma alternativa que está alinhada com a demanda global por produtos naturais e livre de antibióticos. |
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