18 dez 2017

Necropsia e Histopatologia. Quando o convencional se faz essencial?

Um profissional treinado e técnicas convencionais de análise como a necropsia e histopatologia permanecem insubstituíveis no monitoramento de granjas.

Antes da popularização da Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), a investigação dos problemas que acometiam os animais de produção se restringiam ao exame necroscópico, histopatológico e cultivo microbiológico.

Por questão de praticidade e facilidade no processamento de amostras, o dia a dia favorecia a análise macroscópica durante a necropsia e fragmentos de tecidos eram encaminhados para bacteriologia, geralmente de organismos aeróbios, enquanto o exame histopatológico era realizado quando fosse possível encontrar um laboratório capacitado ao processamento e análise do material.

Com o advento da PCR, a detecção de alguns microrganismos de difícil isolamento se tornou mais fácil - como no caso da detecção dos vírus -  e este tipo de técnica também se estendeu para os demais organismos como os fungos e bactérias. Entretanto, a utilização de técnicas moleculares, como a PCR, possui como grande desvantagem a maceração do tecido e a tentativa de amplificação de material genético ou identificação de proteína específicas determinadas no início do processo.

Devido ao baixo custo, resultado rápido e facilidade na interpretação de resultados, a PCR passou a ser tratada como substituto ao exame histopatológico e até mesmo à necropsia.

Há de se ponderar a utilização de uma técnica em detrimento da outra. O ideal é combinar diversas técnicas diagnósticas para traçar a melhor resolução para o problema no plantel.

No caso de surto de doenças é imprescindível a necropsia, já que a suspeita diagnóstica apontada durante o exame macroscópico em conjunção com os sinais clínicos determina a destinação do material para cultivo microbiológico e PCR, em prazos máximos de 48 horas. No caso de algumas infecções bacterianas, já temos alguma resposta quanto à presença ou ausência de determinado organismo infeccioso. Exames coproparasitológicos são realizados concomitantes no campo, com respostas rápidas. Já o prazo para o resultado do exame histopatológico pode variar entre 5 a 20 dias, mas isso não o inviabiliza.

Todas as técnicas com respostas mais imediatas fazem com que seja direcionado um tratamento para o plantel, a melhora dos animais e o retorno no desempenho, o que nem sempre indica a resolução completa do problema. A ocorrência de uma doença em determinado plantel, na maioria das vezes, possui causa multifatorial, ou seja, é comum lidar com co-infecções, falhas de manejo combinadas com variações ambientais, fazendo com que ocorra a doença.

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O que tudo isso tem a ver com a histopatologia?

A histopatologia consiste na fixação prévia do tecido em solução apropriada (por exemplo, formol 10%) para posterior processamento histológico e confecção de corte histológico em lâmina de vidro para observação em microscopia óptica.

Desta forma, a arquitetura tecidual é preservada e a análise é feita levando em consideração a forma, coloração e distribuição de células ou componentes celulares (morfologia).

Diferente do PCR, os resultados não se restringem à quantificação do agente ou a presença ou ausência do material genético, já que o exame histopatológico resulta no diagnóstico morfológico, a descrição histopatológica e, em alguns casos, o diagnóstico etiológico (identificação do agente infeccioso – Gram, PAS...). Por vezes, o que é detectado no exame microbiológico e PCR não é o agente causador da doença.

A combinação dos sinais clínicos, a necropsia, o diagnóstico microbiológico e detecção molecular por PCR em conjunto com a histopatologia pode indicar com maior precisão o problema que acomete o plantel.

O que a histopatologia revela que não pode revelar a PCR e o exame microbiológico?

Um fator é o processo inflamatório. A histopatologia analisa a reação tecidual frente a determinado agente infeccioso, a resposta inflamatória pode indicar qual agente infeccioso está causando a doença, por exemplo, em caso de infecções bacterianas com lesão tecidual existe a migração de heterófilos, já no caso de infecções virais, é comum o predomínio de inflamação por linfócitos. Além disso, pode-se observar em alguns casos o agente infeccioso em questão ou o indicativo deste agente, no caso dos vírus, corpúsculos de inclusão, no caso das bactérias, fungos e parasitos o próprio agente infeccioso pode ser visto e identificado. Com o material em mãos e análise histopatológica por colorações de rotina realizada, outras técnicas complementares podem ser feitas no mesmo material para confirmar qualquer suspeita, como por exemplo imuno-histoquímica e imunofluorescência.

Eu realizo a necropsia, se não vejo um problema, não existe motivo para o exame histopatológico?

Devemos salientar que a Patologia é uma especialidade dentro da Medicina Veterinária. A identificação, descrição e interpretação dos achados precisa ser feita por Médico Veterinário treinado para tal, neste caso evitamos confundir não-lesões com lesões, interpretações equivocadas ou que passe algo desapercebido pela inexperiência do examinador.

Mesmo que durante o exame macroscópico (necropsia) não seja vista alteração em determinado órgão, e sendo este órgão o alvo da suspeita clínica, a coleta de material para histopatologia deve ser realizada.

Em alguns casos agudos de óbito ou doenças infeciosas, o problema pode ser visto somente por exame microscópico, o problema somente seria visto na análise macroscópica dias após a ocorrência da doença. Mesmo em processos crônicos, o animal após adaptação à injúria, pode apresentar alterações macroscópicas discretas e tornam-se evidentes ao exame microscópico, ou seja, durante a necropsia é recomendada a coleta de órgãos, mesmo sem apresentar alterações macroscópicas evidentes.

Trabalho com frangos de corte e gostaria de fazer uma análise histopatológica do osso de meu animal. Fui informado que pode levar 30 dias o resultado, qual a vantagem de realizar este exame se meus animais já foram para o abate?

Doenças articulares e ósseas podem ser encontradas com frequência em alguns plantéis. As causas são diversas, como infecções bacterianas (p. ex. por Sthaphylococcus e E. coli) e virais (p. ex. reovírus), e as condições podem variar, como a osteopetrose e artropatia amiloide. Nestas condições, o diagnóstico histopatológico se faz imprescindível. Devido à necessidade de descalcificação do tecido ósseo, o processamento retarda a divulgação do resultado histopatológico. No entanto, os diagnósticos morfológico e/ou etiológico serão norteadores na medida de erradicação e controle do problema na granja, prevenindo problemas em lotes futuros. A identificação exata do problema faz com que o controle seja mais eficiente e aumenta a chance de eficácia no controle da doença, um efeito que será visto na receita da granja.

Técnicas antigas com novas visões

A avicultura mundial passa por intensa tecnificação e, com isso, os métodos diagnósticos passam a ser mais rápidos, sensíveis e específicos. Ainda assim, um profissional treinado e técnicas convencionais de análise como a necropsia e histopatologia permanecem insubstituíveis no monitoramento de granjas.

A combinação de técnicas diagnósticas vem a corroborar para a estabilidade produtiva e garantia da qualidade.

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