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Salmonelose em aves
O Brasil é um dos maiores produtores de carne de frango e hoje é líder mundial na exportação dessa proteína animal. Para poder ocupar essa liderança é necessário atender algumas medidas de controle e prevenção de alguns agentes de enfermidades infecciosas em aves comerciais como a Salmonelose.
Alimentos provenientes de aves contaminadas por S. Gallinarum e/ou S. Pullorum não promovem doença em seres humanos, sendo considerados de importância apenas para a saúde animal. Entretanto, outros sorovares como, S. Enteritidis e S. Typhimurium, são considerados de importância para a saúde humana.
A Salmonella sp é uma das principais doenças transmitidas por alimento do mundo, sendo responsável por mais de 30% das doenças alimentares do Brasil de acordo com o Ministério da Saúde (Brasil, 2018).
Quando comprovada a ocorrência de pulorose e tifo aviário nos ovos férteis de reprodutoras importadas e aves de linhagens puras, bisavós e avós nascidas no Brasil, o plantel deve ser sacrificado e todos os ovos eliminados, assim como os lotes de matrizes infectadas (Brasil, 2003).
O gênero Salmonella faz parte da família Enterobacteriaceae e é constituído de bacilos gram negativos (Barrow, 2000). Com mais de 2600 sorotipos, é composto de duas espécies: S. bongori, que contém poucos sorotipos e S. entérica composta de 6 subespécies, entre as quais, subespécie entérica, que contém a maioria dos sorotipos de interesse em saúde animal e saúde pública, incluindo os sorovares de Salmonella Gallinarum (biovares Gallinarum e Pullorum), além de Enteritidis, Typhimurium, Heidelberg, Mbandaka, Infantis, Agona, Senftenberg, entre outras.
Na avicultura, as aves podem apresentar esses três quadros relacionados às salmonelas:
O agente causador da Pulorose foi relatado em 1899 por Rettger, logo em seguida em 1909, o mesmo pesquisador denominou o agente como Bacteruim pullorum.
A Salmonella entérica subespécie entérica sorotipo Pullorum (SP) é o agente etiológico causador da doença aviária pulorose conhecida como diarreia bacilar branca ou diarreia branca (Chen et al., 2020).
Apesar de ser mais específica de galinhas e perus, a Salmonella Pullorum pode se abrigar em outras aves como marrecos, gansos, faisões, codornas, papagaios, pardais e canários. Além disso, aves silvestres e migratórias podem ser reservatórios de Salmonelas patogênicas e resistentes, sendo um grande risco para aves alojadas em granjas, bem como para a saúde pública (Wei et al., 2020).
A transmissão da doença pode acontecer de forma indireta por meio de solo, ar, alimentos, água de beber, vetores e fômites contaminados com o microrganismo.
Mas o principal meio de transmissão do agente é a forma direta via vertical (transovariana).
A transmissão horizontal do agente acontece por meio do contato físico entre as aves como no canibalismo, contato com aves mães, aves selvagens e pintinhos doentes no incubatório, no galpão e na caixa de transporte (Berchieri & Freitas, 2015).
Essa doença foi descrita pela primeira vez em 1889 na Inglaterra por Klein. A enfermidade foi confundida com a cólera aviária e febre tifoide humana, e para evitar esse tipo de confusão a doença ficou denominada como tifo aviário (Berchieri e Freitas, 2015).
O diagnóstico é passível de confusão com a pulorose, pois muitas das características são semelhantes. A infecção natural por S. Gallinarum é restrita às aves e as formas de transmissão da doença são semelhantes à Pulorose.
Alguns sintomas dessa enfermidade são:
No Brasil os primeiros surtos da doença datam da década de 90, quando já se importava material genético principalmente dos EUA, local com grave o problema de salmoneloses em aves e humanos.
Causado por qualquer espécie de Salmonella, com exceção daquelas que acometem as aves, a predominância dos sorotipos varia de acordo com a região.
A paratifo aviário pode acometer aves, mamíferos, répteis, insetos e roedores, sendo que nas aves, as jovens são as mais suscetíveis à doença, porém as adultas também podem ser afetadas.
A maioria das infecções por salmonela paratífica não produzem sinais clínicos, nem lesões. A transmissão principal da doença é via oral, havendo casos de transmissão por:
Tem potencial de causar alta mortalidade nos lotes, mas o mais preocupante é o ponto de vista de saúde pública, sendo que o diagnóstico pode ser comprovado por meio de sorologia.
O controle destes patógenos na avicultura é feito baseado na biosseguridade e no uso de aditivos, como probióticos, prebióticos, óleos essenciais e ácidos orgânicos.
Estes produtos objetivam desenvolver a microbiota benéfica do trato gastrointestinal e reduzir a contaminação por Salmonella spp. nos animais, melhorando o desempenho zootécnico.
Alguns ácidos orgânicos podem apresentar efeito antibacteriano específico semelhante aos dos antibióticos, sendo particularmente efetivos contra E. coli, Salmonella sp e Campylobacter sp.
A atividade antimicrobiana dos ácidos orgânicos está relacionada com a redução do pH no trato gastrintestinal e a sua capacidade de dissociar suas carboxilas (Cherrington et al., 1991). Quando estão em forma não dissociada, os ácidos penetram passivamente na célula do patógeno, liberando prótons e ânions, reduzindo o pH intracelular, inibindo a ação das enzimas e levando o microrganismo à morte.
Avaliando a mistura de 0,46% e 0,14% de ácidos propiônico e fórmico, respectivamente, usada em níveis de até 1,2% na dieta de poedeiras comerciais, Thompson & Hinton (1997) observaram ação bactericida contra salmonelas no papo, além de proporcionarem possível diminuição da colonização de bactérias no ceco.
A utilização de ácido lático na água de bebida foi capaz de reduzir a contaminação de Salmonella Enteritidis no papo de frangos de corte pré-abate (Byrd et al., 2001).
Os mecanismos de ação antibacterianos dos aditivos fitogênicos ainda não estão bem esclarecidos.
De acordo com Carson et al. (2002), devido à grande variedade de compostos químicos presentes nos óleos essenciais é possível que sua atividade antibacteriana não seja atribuída a um único mecanismo, mas sim a vários, afetando a permeabilidade da membrana citoplasmática, o gradiente dos íons hidrogênio (H+) e potássio (K+), transporte de elétrons, translocação das proteínas, e/ou as etapas de fosforilação, entre outros processos.
As substâncias carvacrol e timol podem degradar a membrana de bactérias gram-negativas, liberando lipopolissacarídeos (LPS) e aumentando a permeabilidade da membrana citoplasmática (Burt, 2004).
Avaliando o potencial antimicrobiano do cinamaldeído, timol e carvacrol frente à S. Typhimurium, Zhou et al. (2007) observaram que o cinamaldeído inibiu o crescimento bacteriano com concentração de 200 mg/l.
Salmonelose em aves
Já o timol e o carvacrol inibiram o crescimento com concentrações acima de 400 mg/l. Quando os princípios ativos foram combinados (cinamaldeído + timol; cinamaldeído + carvacrol; timol + carvacrol) variando a concentração entre 100 e 200 mg/l de cada, houve efeito sinérgico entre os princípios ativos, apresentando inibição contra S. Typhimurium maior que quando utilizados isoladamente.
O correto manejo sanitário feito com rigor tende a minimizar a introdução e a disseminação de salmonelas em planteis avícolas. A utilização de aditivos nutricionais, como ácidos orgânicos (via ração e ou água de bebida), óleos essenciais, produtos que promovam a modulação e multiplicação de uma microbiota saudável (probióticos e prebióticos), auxiliando na manutenção e saúde do trato gastrointestinal.
Outra estratégia a ser considerada é a vacinação, um dos mecanismos de controle dessas enfermidades de grande importância avícola e de saúde pública.
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