Salmonelose em aves
O Brasil é um dos maiores produtores de carne de frango e hoje é líder mundial na exportação dessa proteína animal. Para poder ocupar essa liderança é necessário atender algumas medidas de controle e prevenção de alguns agentes de enfermidades infecciosas em aves comerciais como a Salmonelose.
O termo salmonelose aviária compreende os vários grupos de doenças das aves determinados por qualquer membro do gênero Salmonella (Andreatti Filho; Okamoto, 2013). Em se tratando de aves comerciais, a salmonelose é uma das principais infecções bacterianas que afetam as aves, causando prejuízos à produção avícola, bem como sendo um problema de saúde pública (Nabil et al., 2018; Zanetti et al., 2019).
Alimentos provenientes de aves contaminadas por S. Gallinarum e/ou S. Pullorum não promovem doença em seres humanos, sendo considerados de importância apenas para a saúde animal. Entretanto, outros sorovares como, S. Enteritidis e S. Typhimurium, são considerados de importância para a saúde humana.
A Salmonella sp é uma das principais doenças transmitidas por alimento do mundo, sendo responsável por mais de 30% das doenças alimentares do Brasil de acordo com o Ministério da Saúde (Brasil, 2018).
Em decorrência das perdas econômicas causadas pela salmonela à avicultura e por afetar a exportação de produtos avícolas brasileiros, o Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Instrução Normativa nº 78 de 03/11/2003, determina que toda granja de reprodutoras de aves deve ser sorológica e bacteriologicamente monitorada para detecção de Salmonella Pullorum, Salmonella Gallinarum, Salmonella Enteritidis e Salmonella Typhimurium.
Quando comprovada a ocorrência de pulorose e tifo aviário nos ovos férteis de reprodutoras importadas e aves de linhagens puras, bisavós e avós nascidas no Brasil, o plantel deve ser sacrificado e todos os ovos eliminados, assim como os lotes de matrizes infectadas (Brasil, 2003).
A Instrução Normativa SDA nº 20, de 21 de outubro de 2016, estabelece o controle e o monitoramento de Salmonella spp. nos estabelecimentos avícolas comerciais de frangos e perus de corte e nos estabelecimentos de abate de frangos, galinhas, perus de corte e reprodução, registrados no Serviço de Inspeção Federal (SIF), com o objetivo de reduzir a prevalência desse agente e estabelecer um nível adequado de proteção ao consumidor, sendo que todos os lotes de frangos e perus de corte devem ser submetidos a colheitas de amostras para a realização de ensaios laboratoriais para detecção de salmonelas antes do seu envio para o abate.
O gênero Salmonella faz parte da família Enterobacteriaceae e é constituído de bacilos gram negativos (Barrow, 2000). Com mais de 2600 sorotipos, é composto de duas espécies: S. bongori, que contém poucos sorotipos e S. entérica composta de 6 subespécies, entre as quais, subespécie entérica, que contém a maioria dos sorotipos de interesse em saúde animal e saúde pública, incluindo os sorovares de Salmonella Gallinarum (biovares Gallinarum e Pullorum), além de Enteritidis, Typhimurium, Heidelberg, Mbandaka, Infantis, Agona, Senftenberg, entre outras.
Na avicultura, as aves podem apresentar esses três quadros relacionados às salmonelas:
O agente causador da Pulorose foi relatado em 1899 por Rettger, logo em seguida em 1909, o mesmo pesquisador denominou o agente como Bacteruim pullorum.
A Salmonella entérica subespécie entérica sorotipo Pullorum (SP) é o agente etiológico causador da doença aviária pulorose conhecida como diarreia bacilar branca ou diarreia branca (Chen et al., 2020).
Apesar de ser mais específica de galinhas e perus, a Salmonella Pullorum pode se abrigar em outras aves como marrecos, gansos, faisões, codornas, papagaios, pardais e canários. Além disso, aves silvestres e migratórias podem ser reservatórios de Salmonelas patogênicas e resistentes, sendo um grande risco para aves alojadas em granjas, bem como para a saúde pública (Wei et al., 2020).
A transmissão da doença pode acontecer de forma indireta por meio de solo, ar, alimentos, água de beber, vetores e fômites contaminados com o microrganismo.
Mas o principal meio de transmissão do agente é a forma direta via vertical (transovariana).
A transmissão horizontal do agente acontece por meio do contato físico entre as aves como no canibalismo, contato com aves mães, aves selvagens e pintinhos doentes no incubatório, no galpão e na caixa de transporte (Berchieri & Freitas, 2015).
Essa doença foi descrita pela primeira vez em 1889 na Inglaterra por Klein. A enfermidade foi confundida com a cólera aviária e febre tifoide humana, e para evitar esse tipo de confusão a doença ficou denominada como tifo aviário (Berchieri e Freitas, 2015).
A Salmonella entérica subespécie entérica sorotipo Gallinarum (SG) é o agente etiológico do tifo aviário ou da febre tifoide das aves domésticas (Seo et al., 2019), acomete principalmente aves adultas, podendo ocorrer em aves jovens.
O diagnóstico é passível de confusão com a pulorose, pois muitas das características são semelhantes. A infecção natural por S. Gallinarum é restrita às aves e as formas de transmissão da doença são semelhantes à Pulorose.
Alguns sintomas dessa enfermidade são:
Lembrando que há a possibilidade de ser confundido com a Pulorose, sendo que a confirmação será feita após o isolamento e identificação do agente.
No Brasil os primeiros surtos da doença datam da década de 90, quando já se importava material genético principalmente dos EUA, local com grave o problema de salmoneloses em aves e humanos.
Causado por qualquer espécie de Salmonella, com exceção daquelas que acometem as aves, a predominância dos sorotipos varia de acordo com a região.
A Salmonella Enteritidis e a Salmonella Typhimurium estão entre as mais prevalentes em aves e têm grande importância para saúde pública.
A paratifo aviário pode acometer aves, mamíferos, répteis, insetos e roedores, sendo que nas aves, as jovens são as mais suscetíveis à doença, porém as adultas também podem ser afetadas.
A maioria das infecções por salmonela paratífica não produzem sinais clínicos, nem lesões. A transmissão principal da doença é via oral, havendo casos de transmissão por:
Tem potencial de causar alta mortalidade nos lotes, mas o mais preocupante é o ponto de vista de saúde pública, sendo que o diagnóstico pode ser comprovado por meio de sorologia.
O controle destes patógenos na avicultura é feito baseado na biosseguridade e no uso de aditivos, como probióticos, prebióticos, óleos essenciais e ácidos orgânicos.
Estes produtos objetivam desenvolver a microbiota benéfica do trato gastrointestinal e reduzir a contaminação por Salmonella spp. nos animais, melhorando o desempenho zootécnico.
O uso de ácidos orgânicos por exemplo, proporcionou melhor desempenho das aves, com melhor conversão alimentar (Maiorka et al., 2004; Viola et al., 2008), maior peso médio e melhor produção de ovos de poedeiras (Gama et al., 2000). Outra função atribuída aos ácidos orgânicos é a da redução da contagem de Salmonella Enteritidis (Bassan et al., 2008).
Alguns ácidos orgânicos podem apresentar efeito antibacteriano específico semelhante aos dos antibióticos, sendo particularmente efetivos contra E. coli, Salmonella sp e Campylobacter sp.
A atividade antimicrobiana dos ácidos orgânicos está relacionada com a redução do pH no trato gastrintestinal e a sua capacidade de dissociar suas carboxilas (Cherrington et al., 1991). Quando estão em forma não dissociada, os ácidos penetram passivamente na célula do patógeno, liberando prótons e ânions, reduzindo o pH intracelular, inibindo a ação das enzimas e levando o microrganismo à morte.
Avaliando a mistura de 0,46% e 0,14% de ácidos propiônico e fórmico, respectivamente, usada em níveis de até 1,2% na dieta de poedeiras comerciais, Thompson & Hinton (1997) observaram ação bactericida contra salmonelas no papo, além de proporcionarem possível diminuição da colonização de bactérias no ceco.
A utilização de ácido lático na água de bebida foi capaz de reduzir a contaminação de Salmonella Enteritidis no papo de frangos de corte pré-abate (Byrd et al., 2001).
Uma alternativa ainda no controle de salmoneloses é o uso de probióticos, como o Bacillus subtilis, juntamente com mananoligossacarídeos. Esta associação permitiu maior altura de vilo e profundidade de cripta em aves aos 21 dias (Pelicano et al., 2005), possivelmente melhorando o desempenho destas aves.
Os mecanismos de ação antibacterianos dos aditivos fitogênicos ainda não estão bem esclarecidos.
De acordo com Carson et al. (2002), devido à grande variedade de compostos químicos presentes nos óleos essenciais é possível que sua atividade antibacteriana não seja atribuída a um único mecanismo, mas sim a vários, afetando a permeabilidade da membrana citoplasmática, o gradiente dos íons hidrogênio (H+) e potássio (K+), transporte de elétrons, translocação das proteínas, e/ou as etapas de fosforilação, entre outros processos.
As substâncias carvacrol e timol podem degradar a membrana de bactérias gram-negativas, liberando lipopolissacarídeos (LPS) e aumentando a permeabilidade da membrana citoplasmática (Burt, 2004).
Avaliando o potencial antimicrobiano do cinamaldeído, timol e carvacrol frente à S. Typhimurium, Zhou et al. (2007) observaram que o cinamaldeído inibiu o crescimento bacteriano com concentração de 200 mg/l.
Já o timol e o carvacrol inibiram o crescimento com concentrações acima de 400 mg/l. Quando os princípios ativos foram combinados (cinamaldeído + timol; cinamaldeído + carvacrol; timol + carvacrol) variando a concentração entre 100 e 200 mg/l de cada, houve efeito sinérgico entre os princípios ativos, apresentando inibição contra S. Typhimurium maior que quando utilizados isoladamente.
Como considerações pode-se concluir que a salmonelose aviária é uma enfermidade de grande importância para a cadeia avícola e de saúde pública. Além disso, cabe destacar que a melhor forma de manter a saúde das aves é por meio de medidas de controle e prevenção corretas, rigorosas e contínuas no plantel.
O correto manejo sanitário feito com rigor tende a minimizar a introdução e a disseminação de salmonelas em planteis avícolas. A utilização de aditivos nutricionais, como ácidos orgânicos (via ração e ou água de bebida), óleos essenciais, produtos que promovam a modulação e multiplicação de uma microbiota saudável (probióticos e prebióticos), auxiliando na manutenção e saúde do trato gastrointestinal.
Outra estratégia a ser considerada é a vacinação, um dos mecanismos de controle dessas enfermidades de grande importância avícola e de saúde pública.
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