Síndrome Respiratória das Aves: quadro de etiologia múltipla
Síndrome Respiratória das Aves: quadro de etiologia múltipla
É muito raro encontrar no campo problemas respiratórios causados por um único agente com lesões típicas ou patognomônicas. No geral, as enfermidades respiratórias das aves se apresentam de forma complexa, de etiologia múltipla e de caráter sindrômico.
Vários agentes podem estar envolvidos (Figura 1) e, dependendo do material enviado para o laboratório, da fase da infecção no momento da coleta e dos meios e métodos de diagnóstico disponíveis, não raro, laboratórios de patologia distintos chegam a diferentes diagnósticos. Muitos destes agentes, por si só, não chegam a produzir quadros respiratórios severos, mas, quando em associação, os mesmos agentes podem produzir desde quadros clínicos discretos, como quedas de postura variáveis e alteração da qualidade externa e interna dos ovos, até mortalidade.
Os produtores e técnicos contam com uma lista de vacinas comerciais eficientes, produzidas com os vários agentes etiológicos: Doença de Newcastle, Bronquite Infecciosa das Galinhas, Metapneumovirus Aviário, Laringotraqueíte das Galinhas, M. gallisepticum, M. synoviae, E. coli, Coriza Infecciosa das Galinhas e Cólera Aviária. Entretanto a infecção por sorovares e ou subtipos distintos, não contemplados nas vacinas comerciais, leva o técnico responsável a buscar alternativas, tais como a utilização de autovacinas, que poderiam melhor atender as necessidades da granja.
Este é o caso de alguns surtos de Coriza Infecciosa (CI), causada pelo Avibacterium paragallinarum, onde um mesmo sorogrupo do agente apresenta sorovares distintos.
Em alguns países da América Latina, o uso de autovacinas tem contribuído para o controle da CI de sintomatologia clássica (sinusite, queda de postura, mortalidade) em regiões onde as vacinas comerciais não apresentam uma cobertura satisfatória. Em alguns países latino-americanos, as vacinas comerciais apresentam eficiência esperada. Alguns autores sustentam que quedas de postura acima de 20% poderiam indicar a ocorrência de doença de etiologia múltipla e não somente a infecção pelo A. paragallinarum. A utilização de sorotipagem bem como provas de proteção cruzada são de grande auxílio na identificação das cepas de A. paragallinarum de diferentes sorovares. Essa técnica também é útil na produção de vacinas regionais mais eficazes, onde a introdução de alguns sorovares se faz necessária.
O recrudescimento de infecções mais severas por M. gallisepticum (MG) em algumas regiões avícolas ou propriedades de postura comercial, provavelmente, está relacionado à diminuição da atenção com as medidas básicas de biosseguridade na granja.
A produção de ovos comerciais é feita, geralmente, em granjas com núcleos de múltiplas idades, o que dificulta o estabelecimento de vazio sanitário através do método “tudo dentro – tudo fora”, ferramenta fundamental na redução da pressão da infecção por este e outros agentes. Por outro lado, vacinas vivas atenuadas de MG constituem uma ferramenta útil no controle dos problemas clínicos destes agentes, incluindo a queda de produção de ovos.
O Gallibacterium anatis (GA), anteriormente classificado como Pasteurella haemolytica, tem sido isolado de aves clinicamente sadias e, aparentemente, faz parte da microbiota normal do trato respiratório e da parte baixa do trato reprodutor.
Em lotes que apresentam queda de postura, o GA tem sido isolado em culturas puras de aves com salpingite, ooforite, atrofia de ovário, peritonite, pericardite, hepatite, postura abdominal e lesões do trato respiratório superior. Algumas aves apresentam o sintoma clássico de cabeça inchada, obrigando o estabelecimento de diagnóstico diferencial. As aves leves geralmente apresentam o problema no início de postura. O uso de vacinas comerciais e autovacinas de G. anatis ( YsabelKoga, comunicação pessoal ) em poedeiras tem se mostrado útil no controle desta infecção em zonas de alta concentração de poedeiras comerciais no Peru.
Escherichia coli Patogênico Aviária (APEC) é o agente bacteriano que participa com maior frequência dos quadros respiratórios, septicêmicos e reprodutivos, geralmente como agente secundário.
É importante mencionar que essa bactéria faz parte da microbiota entérica normal das aves e algumas amostras são potencialmente patogênicas para as aves, não no intestino, mas quando invadem outros órgãos, tecidos e sistemas. Nos últimos 60 anos de avicultura industrial, essa bactéria convive no meio intestinal das aves comerciais, enfrentando e se adaptando a diferentes concentrações de antimicrobianos, anticoccidianos e outras drogas.
Portanto o isolamento desta bactéria da luz intestinal e seu perfil de resistência antimicrobiana, quando daí isoladas, possui pouco valor informativo ou de prognóstico. Com inúmeros fatores de virulência, a E. coli possui um poder invasivo e de disseminação fecal notáveis. Fatores infecciosos, ambientais ou nutricionais que alterem o epitélio e a mucosa ou interfiram com o sistema imune das aves, propiciam a invasão de amostras patogênicas de E. coli que acabam por participar de quadros clássicos como: doença crônica respiratória, síndrome da cabeça inchada, salpingite, dermatites, celulites e onfalites. Vacinas inativadas têm sido utilizadas em matrizes para transferência de imunidade à progênie.
Além da aplicação de medidas gerais de biosseguridade, de um modo geral, na prática, a cloração da água de bebida (2 -3 ppm em condições normais e até 5 ppm em condições de desafio) bem como a pulverização sistemática dos lotes com desinfetantes à base de amônia ou cloro podem ser de auxílio no controle da transmissão horizontal dos agentes e até da manifestação clínica.
Dada a complexidade e inter-relação dos agentes constantes na Figura 1, há a necessidade que os laboratórios de diagnósticos públicos e privados trabalhem com abordagem diagnóstica multidisciplinar que inclua vários processos como: sorologia, bacteriologia, virologia e Reação em Cadeia de Polimerase (PCR). A pesquisa bacteriológica, além dos tradicionais meios de cultivo aeróbicos e anaeróbicos, deve também contemplar a busca de microrganismos de crescimento fastidioso em microaerofilia e em meios de cultivo que permitam o isolamento de determinadas bactérias, como o ágar enriquecido com sangue de carneiro. Provas de identificação de patógenos como PCR são de grande auxílio devido a sua rapidez, sensibilidade e, por vezes, especificidade.
Fonte: Biocamp
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