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Coccidiose: Efeito do gás amônia em cama aviária contaminada com Eimeria spp
A coccidiose aviária é uma doença causada pelo protozoário Eimeria spp, cujos oocistos são bastante resistentes ao meio ambiente e apresentam multiplicação rápida na cama aviária em condições favoráveis de temperatura, umidade e de aeração. Conheça aqui a importância de reduzir a carga parasitária na cama contaminada!
A coccidiose aviária é uma das enfermidades mais prevalentes na avicultura mundial, tem grande importância econômica na cadeia avícola, acarretando na elevação dos custos de produção devido às perdas zootécnicas e ao uso onipresente dos anticoccidianos.
As técnicas utilizadas para o controle da doença na criação das aves estão fundamentadas, principalmente, na utilização dos antimicrobianos via ração, que podem estar contribuindo para o aumento da resistência dos microrganismos na cadeia avícola. E, ainda, em técnicas utilizadas para o tratamento das camas aviárias contaminadas.
Frente aos desafios e as demandas globais quanto à redução do uso dos antimicrobianos, se faz necessária a busca por novos modelos e estratégias de controle e prevenção da doença.
A coccidiose aviária é uma doença:
causada pelo protozoário Eimeria spp;
acomete plantéis de matrizes, aves de postura e principalmente frangos de corte;
elevando a conversão alimentar, desuniformidade e queda no ganho de peso das aves.
Em relação aos custos de produção, alguns estudos estimam que o custo global para o controle da doença seja de aproximadamente 14,0 bilhões de euros por ano.
EIMERIAS SPP
As Eimerias spp são parasitas intracelulares e logo após a infecção causam danos na mucosa intestinal das aves, levando à redução da absorção dos nutrientes.
As espécies mais prevalentes no Brasil e que acometem plantéis de frangos de corte são:
E. acervulina,
E. máxima e
E. tenella;
Na maioria dos casos, observa-se a forma subclínica da doença, não apresentando sintomas de maior relevância, impactando principalmente na queda de desempenho das aves.
CAMA AVIÁRIA
Os oocistos de Eimeria spp. são bastante resistentes ao meio ambiente e apresentam multiplicação rápida na cama aviária em condições favoráveis de temperatura, umidade e de aeração.
Neste contexto, é necessário a busca por métodos alternativos ao uso de anticoccidianos no controle e prevenção da coccidiose e na redução da carga parasitária na cama aviária contaminada.
O gás amônia tem demonstrado ser eficaz na destruição de oocistos de Eimeria spp. em diferentes concentrações mais altas.
A amônia é um composto químico comumente utilizado nas indústrias, de grande aplicabilidade no setor de refrigeração e apresenta baixo custo para aquisição.
Na avicultura, a amônia tem origem na fermentação microbiana do ácido úrico presente na cama aviária. O ácido úrico, após sofrer ação da enzima uricase é convertido em amônia e gás carbônico.
MODO DE AÇÃO
Seu mecanismo de ação ainda não é claramente compreendido.
Sabe-se que pode atravessar a parede das células facilmente e, já no seu interior, acredita-se que o NH3 atue, elevando o pH intracelular através de influxo direto, ligações a íons de hidrogênio e no deslocamento da concentração de potássio para fora da célula, levando à desestabilidade da homeostase celular.
Um novo método de desinfecção de cama aviária com lona na superfície e injeção de gás amônia, de forma controlada em concentrações variando de 0,2 a 1%, demonstraram eficácia na eliminação de Salmonella Heidelberg e Eimerias spp. em testes realizados in vitro e de campo.
RESULTADOS
Os resultados obtidos no experimento com as Eimerias estão demonstrados na Tabela 1.
As doses de gás amônia (0,2%, 0,4%, 0,8%, 1% e 1,2%) inibiram em 100% a esporulação de oocistos de Eimeria spp. em camas de aviário reaproveitadas.
No controle positivo houve esporulação dos oocistos e no controle negativo não foi verificada presença de oocistos, como era esperado.
Também foi observado que, quanto maior foi a dose do gás amônia, menor foi o número de oocistos não esporulados. Acredita-se que essa redução na quantidade de oocistos se deve à rápida eliminação dos mesmos pelo gás amônia, com possível deterioração.
A hipótese esperada, de que o gás amônia, em diferentes concentrações, pudesse apresentar ação inibitória de esporulação sobre oocistos de Eimeria spp em cama aviária contaminada, foi confirmada, concordando com os resultados encontrados na literatura.
GÁS AMÔNIA
Horton-Smith et al. (1940), utilizando concentração de 25 ppm de gás amônia eliminou 100% dos oocistos em uma hora. Já em concentração de 7,7 ppm foi igualmente eficaz em período de três horas.
Também foi revelado que a fumigação com gás amônia em aviários de frango de corte pode ser eficiente utilizando uma concentração de 8 ppm em condição hermética. A colocação de lona na superfície da cama foi defendido durante o processo de fumigação com o gás amônia.
Ainda no mesmo estudo foi relatado que diferentes diluições de amônia líquida foram letais frente aos oocistos de Eimeria spp.
solução a 1% eliminou 100% dos oocistos em 24 horas,
solução a 5% eliminou os oocistos em 2 horas e,
solução a 10% foi capaz de eliminar e inviabilizar os oocistos em 45 minutos.
DESINFECÇÃO DE CAMA
Lorenzoni (2020) relata a sensibilidade dos oocistos de Eimeria spp no meio ambiente, principalmente quando se encontram fora do hospedeiro por período de duas ou mais semanas.
O estudo também defende a necessidade do uso de protocolo eficiente de desinfecção de cama aviária reaproveitada, a fim de reduzir a quantidade de oocistos no ambiente, e ainda a implementação de um programa de vacinação para controle da coccidiose aviária.
Essa estratégia pode gerar resultados positivos, trazendo novas alternativas ao controle da coccidiose aviária, principalmente como alternativa na rotação dos programas de controle.
PRODUÇÃO DE AMÔNIA
Alguns fatores físico-químicos da cama aviária devem interagir de forma eficiente a fim de elevar a produção de amônia, que por sua vez exerce ação frente aos microrganismos (Oliveira et al., 2004; Ferreira et al., 2004; Soliman et al., 2018).
Em concordância com o presente estudo, Garcés-Gudiño et al. (2018) relataram maior quantidade de oocistos em cama nova, comparado à cama reaproveitada de frangos de corte.
A maior produção de amônia em cama reaproveitada pode ser responsável por esta redução no número de oocistos.
O estudo também reforça os resultados obtidos por Chapman and Johnson (1992); Assis et al. (2013), que revelaram redução significativa no número de oocistos de Eimeria acervulina quando a cama foi submetida ao tratamento de fermentação com enleiramento e lona plástica por 10 dias.
OUTRAS PESQUISAS
Outro fator importante diz respeito aos relatos de Kawazoe (2009), que indicam a resistência da parede do oocisto de Eimeria spp. à proteólise e impermeabilidade a substâncias solúveis em água, incluindo os diferentes desinfetantes comumente utilizados na cadeia avícola.
Entretanto, relatou a eficiência de alguns compostos químicos de baixo peso molecular na eliminação dos oocistos, como o gás de amônia, brometo de metila e alguns compostos fenólicos.
Kim e Patterson (2003) relatam que a adição da cal virgem ou hidratado sobre a cama contribui na elevação de seu pH, melhorando a ação da enzima uricase e consequentemente elevando a produção de amônia.
CONCLUSÃO
Desta forma, a injeção de gás amônia de forma controlada, com lona plástica sobreposta à cama é um método que poderá melhorar a desinfecção de camas reaproveitadas, isolando os parâmetros físico-químicos que interagem e interferem no processo de produção do gás amônia natural por fermentação microbiana (Mendonça et al., 2021).
Além disso, o método lona na superfície com a injeção de amônia irá reduzir de 10, para 2 dias o período de desinfecção em relação aos métodos tradicionais (adição de cal, lona na superfície e enleiramento), gerando maior lucratividade e viabilidade econômica na produção avícola (Rosa et al., 2014; Mendonça et al., 2021).
Os dados do trabalho demostraram que concentrações iguais ou superiores a 0,2% de amônia garantem a eliminação e inibição de esporulação de oocistos de Eimeria spp em camas de aviário reaproveitadas, numa espessura de aproximadamente 20 cm em período de 48 horas.
Assim, o presente estudo pode colaborar no aperfeiçoamento do método lona na superfície com injeção de amônia no controle de Eimeria spp em camas aviárias reaproveitadas, e contribuir para a redução do uso de anticoccidianos, oferecendo aos consumidores um alimento mais seguro, livre de resíduos e microrganismos resistentes aos antimicrobianos.
REFERÊNCIAS
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