06 jun 2017

Está considerando produzir ovos livres de gaiola?

Este artigo aborda alguns dos desafios mais importantes para empresas que decidiram explorar a produção de ovos livres de gaiola ou sem antibióticos.

A indústria de produção de ovos comerciais tornou-se o principal alvo de grupos ativistas do bem-estar animal que, além disso, têm utilizado a bandeira da resistência aos antibióticos para impor ainda mais pressões sobre a indústria produtora de ovos. A realidade é que, em algumas regiões como a União Europeia, América do Norte e Australasia, já não há como voltar atrás e a próxima será, ao menos em parte, a América Latina. A indústria deverá transformar seus sistemas de produção para satisfazer aos consumidores, às cadeias de supermercados, às cadeias de restaurantes de comida rápida, às empresas processadoras de alimentos e toda a indústria que depende significativamente da utilização de ovoprodutos, simplesmente para manter e melhorar sua imagem corporativa, ou porque realmente lhes preocupa o bem-estar animal. A indústria produtora de ovo está buscando saídas para que estas mudanças não sejam de todo mal, adicionando valor agregado a seus produtos. Por exemplo, os ovos livres de gaiola, orgânicos, caipiras ou livres de antibióticos têm um sobrepreço para os consumidores que podem absorver maior custo em seus alimentos. Embora a indústria do ovo esteja aprendendo rapidamente a adaptar-se a estas mudanças, muitas empresas sofrem inúmeros contratempos no processo de aprendizagem. gallinas fuera de las jaulas

Figura 1. Exemplos de empresas, restaurantes e cadeias de supermercados que anunciaram sua intenção de utilizar somente ovos produzidos livres de gaiolas na América do Norte (Canadá, Estados Unidos, México).

Entre os principais desafios esperados na transição para a produção de ovo livre de gaiola estão:

MAIOR MORTALIDADE

A maior mortalidade poderá se dever a traumatismos, bicadas, ataques de animais selvagens e infecções gastrointestinais do tipo viral, bacteriano ou parasitária.

Um dos aprendizados mais importantes consiste no fato de que nem todas as linhas genéticas se adaptam facilmente à produção de ovo em sistemas livres de gaiola.

Isto é especialmente verdadeiro em relação a aves Leghorn brancas pois somente algumas linhas genéticas servem para a produção livre de gaiolas; algumas destas linhas são excessivamente nervosas e podem sofrer mortalidade elevada devido ao constante estresse e nervosismo que manifestam em espaços abertos. É importante consultar as empresas de genética para utilizar as linhas genéticas que melhor se adaptam à produção em galpões convencionais ou em sistemas de aviários e similares.

Continue após a publicidade.

A produção de ovo orgânico em pasto exige que as aves tenham acesso ao exterior, o que as expõe a animais predadores.

Existem países na União Europeia onde a mortalidade por ataques de raposas ou águias pode chegar a mais de 10%. Em algumas ocasiões, as aves podem ainda desenvolver problemas de canibalismo o que torna importante cuidar de todos os aspectos de manejo voltados para a redução de problemas de bicadas e asfixia. Além disso, as aves criadas soltas, naturalmente, serão mais suscetíveis a infecções bacterianas e parasitárias.

Os problemas de enterite necrótica, cólera aviar, erisipela e histomonose tem se tornado desafios frequentes nas aves de chão e com acesso ao exterior, enquanto este tipo de problemas são praticamente desconhecidos em aves alojadas em gaiolas.

A Figura 2 ilustra como exemplo a mortalidade registrada em uma empresa que recentemente passou por uma transição de produção em gaiolas para produção em sistemas de aviários livres de gaiola

gallinas fuera de jaulas inconvenientes

Figura 2. Mortalidade em 60 semanas (%)

A Figura 2 é um exemplo de experiências que podem ter as empresas em transição de produção de ovo em gaiola para produção de ovo livre de gaiola. A empresa ilustrada neste gráfico tinha uma mortalidade média de aproximadamente 4-5% às 60 semanas de idade (barras azuis), porém esta mortalidade praticamente se duplicou ao iniciar-se a produção em aviários sem gaiolas (barras amarelas).

Grande parte da mortalidade nas galinhas alojadas em aviários se deveu a infecções intestinais e traumatismos ocasionados pelos equipamentos dos galpões

Além disso, a empresa teve que aprender a imunizar suas galinhas contra enfermidades para as quais normalmente não tinha um programa de vacinação ou de control, como por exemplo coccidiose, enterite necrótica e cólera aviar. Esta empresa também demorou para descobrir que existem linhas genéticas muito mais adaptáveis à produção fora de gaiola.

MAIOR PRODUÇÃO DE OVOS DE PISO

Um dos problemas de manejo mais importantes na produção em sistemas sem gaiolas é a postura de ovos no chão.

Algumas linhas genéticas apresentam mais problemas de postura no chão que outras e é importante informar-se deste problema potencial no momento de iniciar a busca de linhas genéticas para este tipo de produção. No entanto, ainda que exista uma predisposição genética para a postura de ovos no chão, no início da produção, são realmente os problemas de manejo que precisam ser lidados favorecendo a postura no piso.

Por exemplo, não se deve permitir o acúmulo de ovos no chão e estes devem ser recolhidos o mais frequentemente possível enquanto o lote de galinhas alcança seu pico de produção. Além disso, deve evitar-se zonas escuras, que atraiam as galinhas para por ovos.

Na América do Norte, a legislação indica que todos os ovos devem ser lavados, desinfetados e refrigerados antes da comercialização. Esta legislação permite mitigar o impacto dos ovos de piso ou sujos pois ao lavar-los e desinfetá-los se recupera uma grande porcentagem dos ovos sujos.

Ao contrário, na União Europeia a filosofia é totalmente distinta, pois não é permitido lavar e desinfetar ovos sujos e por isso as perdas podem ser enormes quando há ovos de piso e/ou demasiado sujos, dado que hoje em dia uma grande proporção dos ovos comercializados na União Europeia são produzidos por galinhas livres de gaiola.

SANIDADE DE OVOS & SEGURANÇA ALIMENTAR

Quando a indústria decidiu há muitos anos produzir ovos de galinhas em gaiolas, isto se deu em grande parte para melhorar a sanidade dos ovos e evitar seu contato com o chão e matéria fecal. Uma grande desvantagem da produção de ovos livres de gaiola é a contaminação potencial com patógenos que ponham em perigo a segurança dos alimentos.

Isto não significa que não seja possível produzir sanitariamente ovos livres de gaiola; No entanto, pode se dificultar mais a manutenção de altos padrões de segurança ante a produção de ovo livre de gaiola.

MENOR PORCENTAGEM DE UTILIZAÇÃO DE OVOS

Em empresas de países onde não se costuma lavar e desinfetar ovos, ou onde está proibido fazê-lo, será naturalmente mais difícil manter um alto percentual de utilização dos ovos produzidos, pois muitos deles poderão estar suficientemente sujos a ponto de não se qualificarem como ovos vendáveis.

O que se deve esperar como problemas principais do ponto de vista sanitário ou veterinário?

Deve-se considerar sete principais áreas de preocupação:

daños inducidos por virus instestinalesENFERMIDADES GASTROINTESTINAIS

Vírus intestinais que causam problemas durante as primeiras duas semanas de vida, o que inclui Astrovirus, Reovírus, Enterovírus, Rotavírus, Parvovírus e Picornavírus.

Parasitas diversos que causam enterite aumentam a mortalidade e a necessidade de tratamentos terapêuticos. Por exemplo, as distintas coccidoses, histomonoses e infestações com vermes redondos (Capillaria, Ascaridia e Heterakis) ou planos (tênias diversas).

Bactérias, entre as quais as mais importantes são as que causam enterite ulcerativa (C. colinum) e enterite necrótica (C. perfringens). Também deve-se considerar que a probabilidade de infecção com Salmonela é permanente.

LESÕES & PREDAÇÃO

A maioria das perdas associadas a traumatismos são devidas a lesões induzidas pelo abundante equipamento que existe dentro dos aviários, a propensão das galinhas produtoras de ovo marrom para acumularem-se em alguns pontos dos galpões até asfixiarem-se; e os ataques de animais predadores.

SEGURANÇA ALIMENTAR

Vários estudos focados em determinar riscos de contaminação com Salmonela em granjas de aves em gaiolas ou de aves livres de gaiola têm produzido resultados contraditórios.

O importante é considerar que não se trata de uma concorrência entre aves livres de gaiola e aves em gaiola, mas sim à qualidade microbiológica do produto final. O relevante é que se vamos produzir ovos livres de gaiola devemos reconhecer os riscos e fazer todo o possível para minimizá-los.

PARASITAS

As aves criadas em gaiola são suscetíveis a infestações com endo e ectoparasitas, igualmente às aves alojadas em sistemas livres de gaiolas. No então, não há dúvida de que as aves com acesso ao piso e ao exterior têm um maior risco de serem afetadas por coccidias e Histomonas (sem mencionar a influenza aviária, um risco óbvio).

Deve-se elaborar um plano para prevenir estas infestações e é necessário estar consciente da possibilidade de sofrer infestações massivas com vermes. Poderá, inclusive, haver queixas por parte de consumidores devido à presença ocasional de vermes em ovos, o que pode se tornar um grave problema comercial.

lesiones producidas por parásitos

Figura 4. Alguns parasitas frequentemente observados em galinhas alojadas em aviários livres de gaiola e com acesso ao exterior

INFECÇÕES BACTERIANAS

As 5 enfermidades ou infecções bacterianas que mais devem nos preocupar incluem Salmonela, Clostridium, E. coli, Erisipela e Pasteurella.

A primeira linha de defesa contra estas bactérias é a biossegurança, limpeza e desinfecção, além de medidas de manejo para minimizar estes problemas.

No caso da Clostridium, a prevenção e controle efetivo de coccidiose como fator predisponente é fundamental, além de manter o estado de saúde intestinal em condiciones ótimas. Existem vacinas para prevenir coccidiose (como fator predisponente), e vacinas ou bacterinas contra Salmonela, colibacilose e Pasteurelose (cólera aviar).

No caso da Erisipela, esta enfermidade pode ser prevenida mediante bacterinas autógenas e limitando a exposição à bactéria no campo.

BEM-ESTAR ANIMAL

A principal razão para eliminar a produção em gaiolas é o melhoramento das condições de vida das galinhas e com isso os padrões de bem-estar animal. Paradoxalmente, criar galinhas fora de gaiola, em algumas ocasiões, resulta em maior mortalidade e traumatismos, além de as galinhas poderem se infectar com agentes contra os quais já não há fármacos autorizados, ou simplesmente não se permite a medicação com nenhum produto, se a produção for ainda classificada como orgânica e livre de antibióticos.

NUTRIÇÃO

As aves livres de gaiola consomem e requerem mais alimentos e nutrientes. Não é pouco comum observar que as aves em piso, e especialmente em aviários, consumam até 18% mais alimento, particularmente se o sistema de produção inclui temperaturas inferiores à zona de conforto (menos de 21 graus centígrados).

Em resumo, deve-se monitorar várias áreas ao fazer a transição de produção em gaiola para produção livre de gaiola Algumas das áreas mais importantes incluem infecções virais, bacterianas e parasitárias. Pode se esperar, em alguns casos, maior mortalidade devido a infecções ou infestações intestinais, traumatismos e predação. Apesar destes riscos, é possível produzir ovos livres de gaiola exitosamente e com um valor agregado interessante para os nichos de mercado que podem absorver um sobrepreço por ovos livres de gaiola.

Relacionado com aviNews Brasil

REVISTA AVINEWS BRASIL
ISSN 2965-341X

Assine agora a melhor revista técnica sobre avicultura

EDIÇÃO aviNews Brasil 3TRI 2024
Imagen Revista Como as estratégias de marketing estão revolucionando a avicultura de postura

Como as estratégias de marketing estão revolucionando a avicultura de postura

André Carvalho
Imagen Revista Como falar de bem-estar de embriões de pintos de um dia na produção de frangos de corte?

Como falar de bem-estar de embriões de pintos de um dia na produção de frangos de corte?

Iran José Oliveira da Silva Jumara Coelho Ticiano Sérgio Luiz de Castro Júnior
Imagen Revista Demanda crescente e sustentabilidade do ovo impulsionam o mercado brasileiro

Demanda crescente e sustentabilidade do ovo impulsionam o mercado brasileiro

Tabatha Lacerda
Imagen Revista Manejo e fisiologia das aves frente o calor extremo

Manejo e fisiologia das aves frente o calor extremo

C. C. PASSINHO N. B. MERCÊS
Imagen Revista Impacto da coccidiose em aves: apoio a medidas de controle

Impacto da coccidiose em aves: apoio a medidas de controle

Marcelo Hidalgo
Imagen Revista Sustentabilidade na produção de aves através do uso eficiente de dejetos da avicultura

Sustentabilidade na produção de aves através do uso eficiente de dejetos da avicultura

Equipe Técnica Zucami
Imagen Revista Você sabe o que é abate Halal?

Você sabe o que é abate Halal?

Dra. Soha Chabrawi
Imagen Revista SIAVS: ponto de encontro da proteína animal para o mundo

SIAVS: ponto de encontro da proteína animal para o mundo

Imagen Revista 10 fatores inegociáveis para o controle de cascudinhos em granjas avícolas

10 fatores inegociáveis para o controle de cascudinhos em granjas avícolas

Alison Turcatel Luiz Eduardo Takano Roney da Silva Santos
Imagen Revista incubaFORUM reúne mais de 400 pessoas no SIAVS 2024

incubaFORUM reúne mais de 400 pessoas no SIAVS 2024

Imagen Revista Inata marca presença no SIAVS com maior estande da sua história e novidades no time

Inata marca presença no SIAVS com maior estande da sua história e novidades no time

Imagen Revista Estratégias de controle de temperatura e ventilação para o frango de corte

Estratégias de controle de temperatura e ventilação para o frango de corte

José Luis Januário Lucas Volnei Schneider
Imagen Revista Artrite e suas causas multifatoriais em frangos de corte – Parte 1

Artrite e suas causas multifatoriais em frangos de corte – Parte 1

Cláudia Balzan Eduarda da Silva
Imagen Revista Como a avicultura de postura pode se profissionalizar e gerar renda para o pequeno produtor

Como a avicultura de postura pode se profissionalizar e gerar renda para o pequeno produtor

Kariny Moreira
Imagen Revista Como melhorar a rentabilidade na produção de frangos de corte

Como melhorar a rentabilidade na produção de frangos de corte

Patrícia Marchizeli
Imagen Revista Qual é a relação entre a saúde do fígado e a produtividade? 

Qual é a relação entre a saúde do fígado e a produtividade? 

MVZ Luisa F. Rivera G.
Imagen Revista Vacina INNOVAX® ND-IBD promove melhor resposta sorológica nas aves

Vacina INNOVAX® ND-IBD promove melhor resposta sorológica nas aves

Ana Paula Fernandes
Imagen Revista Biochem lança programa de saúde intestinal para avicultura

Biochem lança programa de saúde intestinal para avicultura

Equipe Técnica Biochem
Imagen Revista Machos reprodutores: como obter bons indicadores de fertilidade na fase de recria

Machos reprodutores: como obter bons indicadores de fertilidade na fase de recria

Cidimar Trevisan Eduardo Kohl Marcel Pacheco
Imagen Revista Enfrentando o desafio do Enterococcus cecorum: Soluções nutricionais e sanitárias para a resistência das aves

Enfrentando o desafio do Enterococcus cecorum: Soluções nutricionais e sanitárias para a resistência das aves

Equipe Técnica Adisseo
Imagen Revista Manejo alimentar

Manejo alimentar

Equipe Técnica H&N

JUNTE-SE À NOSSA COMUNIDADE AVÍCOLA

Acesso a artigos em PDF
Mantenha-se atualizado com nossas newsletters
Receba a revista gratuitamente em versão digital

DESCUBRA
AgriFM - Os podcasts do setor agrícola em português
agriCalendar - O calendário de eventos do mundo agrícolaagriCalendar
agrinewsCampus - Cursos de formação para o setor agrícola e da pecuária