13 mar 2018

Crise da Venezuela afeta a indústria avícola e consumidores

O setor avícola não está isento à crise econômica venezuelana, que tem provocado a queda na produção, junto com a diminuição do poder aquisitivo pela hiperinflação. Por conseguinte, o consumo de carne de aves diminuiu drasticamente.

A economia da Venezuela está em declínio, após três anos consecutivos de contração do produto interno bruto e, mais recentemente, a hiperinflação, levaram a uma grave crise econômica. O setor avícola da Venezuela não é imune aos desafios econômicos gerais do país e luta para manter as operações com produção e consumo que alcançam mínimos históricos.

Os dados oficiais do Governo da República Bolivariana da Venezuela (GBRV), segundo o Serviço Agrícola Exterior (FAS) ligao ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), sugerem que na Venezuela o total de frangos de corte era de cerca de 29 milhões de cabeças em junho de 2017, porém, com uma capacidade operacional para produzir 73 milhões. Além disso, as galinhas poedeiras são estimadas em 10,3 milhões de cabeças em junho de 2017, com uma capacidade operativa para produzir 27 milhões de cabeças.

Para o GBRV, em junho de 2017, o total de frangos de corte era 29 milhões de cabeças e  10,3 milhões de cabeças de galinhas poedeiras. Dados ligeiramente divergentes da FENAVI - Venezuela apresentam um total maior, considerando para frangos uma estimativa de 30,5 milhões de cabeças e para galinhas poedeiras, de aproximadamente 11,1 milhões de cabeças.

O presidente da FENAVI, Francisco Tagliaprieta, afirmou que entre 2002 e 2012 o setor avícola crescia 2% ao ano. Na Venezuela o consumo de carne de frango era de aproximadamente 42 kg per capita e o de ovos estava entre 160 e 223 por habitante ao ano.

O setor avícola venezuelano é composto principalmente por empresas privadas que contam com aproximadamente 30 instalações de média a grande escala, que produzem carne de frango e ovos. Em geral, a maioria das operações avícolas de média e grande escala estão integradas verticalmente, controlando todas as fases de produção: a fabricação de alimentos, granjas de reprodutoras, plantas de incubação, galpões de engorda, plantas de processamento e distribuição de produtos.

Para a produção de frangos de corte, a maioria das empresas administram seus próprios galpões de engorda e já não usam produtores independentes, uma prática comum no passado. No entanto, para a produção de ovos, os produtores independentes têm uma maior participação na produção. As operações avícolas maiores fornecem aos produtores os diversos insumos para a produção de ovos, como ração e galinhas poedeiras de substituição.

A indústria avícola está majoritariamente integrada verticalmente, podendo sobreviver à atual crise econômica da Venezuela, investindo em tecnologia e adaptando a produção a volumes criticamente baixos de ração e outros insumos.

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A indústria avícola venezuelana segue as últimas tendências de gestão e produção da indústria quanto a atualizações operacionais para fábricas de ração, programas de nutrição melhorados, recursos genéticos e melhores instalações de produção, que respaldam a capacidade da indústria para cumprir os padrões internacionais de eficiência e produtividade.

O setor avícola também recebe serviços de fornecedores especializados de matérias primas difíceis de encontrar, micro ingredientes, medicina animal, apoio veterinário e gerência profissional. No entanto, a disponibilidade e qualidade destes serviços estão diminuindo como resultado da crise econômica.

A produção de frango de corte é frequente em todo o país. Os maiores estados produtores de frangos de corte são Aragua, Carabobo e Zulia, na região central e ocidental da Venezuela. Quase todas as grandes operações de produção de ovos se concentram regionalmente nos estados centrais de Aragua e Carabobo. As médias e pequenas operações de produção de ovos, por parte de proprietários independentes ou produtores privados, estão presentes em todo o país.

Perspectiva histórica
A produção de carne de frango e ovos alcançou seu máximo em 2013 e 2014, respectivamente. A produção foi impulsionada por matérias primas agrícolas subvencionadas para a alimentação das aves com as importações de soja e milho adquiridos pelo governo e vendidos à indústria de ração a preços significativamente reduzidos por tonelada.

A alimentação subsidiada permitiu à indústria manter os ganhos com os preços, regulados pelo governo para a carne de frango e ovos, abaixo do que provavelmente ditaria o mercado. Estes preços de mercado inferiores ajudaram a estimular um aumento considerável no consumo.

Desde essa época de pico, a produção de carne de frango e ovos caiu drasticamente, dimiuindo 77% e 68%, respectivamente. A diminuição da produção foi precipitada por uma drástica redução das importações de matérias primas agrícolas (ou seja, menos volume de milho e farina de soja subvencionados) e uma menor disponibilidade de cereais secundários produzidos no país (por exemplo, milho, sorgo).

Os fenômenos mais recentes da hiperinflação destruiu o poder aquisitivo e deixou o GBRV incapaz de impor preços regulados, nem deter sua rápida trajetória ascendente. Mais que isso, a combinação de controles de preços e hiperinflação diminuiu a capacidade da indústria avícola para manter margens de ganho estáveis com custos de produção crescentes.

Desafios da produtividade
Na Venezuela, os frangos de corte geralmente são abatidos depois de um período de crescimento de 40-42 dias, alcançando um peso médio de 2,1 quilogramas. O aumento de peso médio por dia é de aproximadamente 51,45 gramas e a taxa de conversão alimentar é de aproximadamente 1,8. No entanto, a escassez de alimentos desde 2016 até hoje vem obrigando muitas operações avícolas a ajustar os mixes de ração, as fórmulas e os volumes para as rações diárias, reduzindo a média do mercado para 1,5 quilogramas.

Crisis de Venezuela afecta a la industria avícola y consumidores

 

Crisis de Venezuela afecta a la industria avícola y consumidores

Consumo

Consumo de carne de frango
Cerca de 80% a 90% da carne de aves produzida na Venezuela é consumida fresca e toda a produção nacional é comercializada no país num curto espaço de tempo. O restante está destinado ao processamento de frios, salsichas, pasta para nuggets e outros produtos. O consumo de carne de frango mais que dobrou entre 1998 e 2014, aumentando de 21 quilogramas para 45 quilogramas por habitante. Desde então, no entanto, o consumo caiu bruscamente, aplacado por uma economia geral deprimente, que sofre de hiperinflação.

Paralelamente à queda da produção, junto com a diminuição do poder aquisitivo pela hiperinflação, o consumo da carne de aves caiu 66% do seu ápice em 2014, para 14 quilogramas por habitante em 2017. Os dados abaixo apresentam as estimativas da FENAVI para o consumo de carne de frango per capita de 2007 a 2017.

Crisis de Venezuela afecta a la industria avícola y consumidores

A crise econômica e a diminuição do comércio em moedas limitadas, impedem que a carne de aves importada possa compensar a queda da produção nacional e, portanto, há a diminuição da demanda induzida pela escassez de produtos. A escassez de produtos avícolas na Venezuela criou um cenário de mercado atípico em comparação com outros países em desenvolvimento, onde o preço (não regulado) da carne de aves é mais caro que o da carne bovina.

Consumo de ovo
A tendência do consumo de ovo per capita segue a linha da carne de aves, tendo dobrado de 1999 (95 unidades) a 2014 (188 unidades), porém diminuindo a partir de então. Em 2016, o consumo caiu em 50% em relação ao seu ápice em 2014, que era de 91 unidades per capita. Espera-se uma ligeira recuperação em 2017, chegando a 103 unidades per capita.

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Comércio
Os altos preços do petróleo entre 2004 e 2014 ajudaram a marcar o começo de uma política do Banco Central venezuelano que subsidiava a troca de divisas por bens críticos de interesse nacional, como matérias primas agrícolas e outros produtos alimentícios. As regulações do GBRV contra ganhos excessivos do setor privado venezuelano resultaram, muitas vezes, na venda desses produtos comparáveis importados a preços competitivos, derrubando a produção nacional.

As receitas subsidiadas estimularam um comércio significativo da carne de aves e produtos cárneos congelados e/ou refrigerados. Os principais exportadores de produtos avícolas para a Venezuela têm sido Argentina e Brasil.

A medida que o preço do petróleo caiu vertiginosamente em 2015, as receitas do petróleo ao GBRV caíram bruscamente, limitando os recursos para as importações. Segundo a FENAVI, a falta de recursos causou uma redução drástica nas importações de carne de frango, do limite de 240.697 TM em 2014, para 74.074 MT em 2016 e estima-se que as importações caíram para 43.000 MT em 2017.

As condições econômicas adversas, as expropriações comerciais e a escassez de insumos impediram o crescimento na indústria avícola e as capacidades ficaram limitadas para adaptar a produção à diminuição das importações.

As importações começaram a cair depois de 2014 e a produção nacional continua sendo incapaz de compensar os déficits comerciais. O mercado continua contraindo-se, principalmente por uma forte diminuição do poder aquisitivo e, consequente, redução no consumo. Uma recuperação do consumo a níveis históricos de 34 kg per capita exigirá importações, além de subsídios governamentais aos alimentos e / ou uma melhora substancial no poder aquisitivo.
Nenhum cenário é previsível a curto prazo na atual crise econômica da Venezuela.

Política
Desde 2003, os preços no varejo da carne de aves estão sujeitos a controles de preços regulados pelo GBRV. Especificamente as aves inteiras e os cortes são vendidos a preços fixos e, ocasionalmente, são ajustados a partir de anúncio público por parte do GBRV. Não existem políticas agrícolas específicas que afetem a produção de carne de aves e de ovos, além dos insumos para alimentos subsidiados mencionados anteriormente. A avicultura é um produto prioritário do GBRV e o setor privado é elegível para obter recursos subsidiados para a importação de matérias primas; no entanto, o GBRV não distribui verbas subsidiadas ao setor privado desde agosto de 2017.

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