23 out 2017

Micotoxinas: um problema permanente e inevitável

As micotoxinas são subprodutos metabólicos muito tóxicos dos fungos. Os fungos produtores de micotoxinas prejudicam os cultivos e podem provocar grandes perdas econômicas em todos os níveis nos processos de produção de alimentos e rações. Além disso, muitas das micotoxinas podem afetar a saúde das pessoas animais que consumam alimentos ou rações contaminados, causando-lhes doenças (e até a morte).

Até hoje se conhecem mais de 400 micotoxinas. As mais importantes podem se agrupar em seis categorias principais: aflatoxinas, tricotecenos, fumonisinas, zearalenona, ocratoxinas e alcaloides do ergot. Por sua vez, os fungos podem se dividir em dois grupos: fungos do campo, que produzem micotoxinas nos cultivos antes da colheita; e fungos de armazenamento, que geram micotoxinas, principalmente após a colheita. Por exemplo, se considera que os fungos do gênero Fusarium são fungos do campo e os dos gêneros Aspergillus e Penicillium são fungos do armazenamento.

Fatores que influenciam na produção de micotoxinas

Existem determinados fatores de estresse, como secas, falta de fertilização do solo, alta densidade do cultivo, presença de ervas daninhas,  insetos ou danos mecânicos produzidos no campo ou durante a colheita, o armazenamento e a distribuição, que podem debilitar os mecanismos naturais de defesa das plantas e favorecer a colonização por parte de fungos produtores de micotoxinas e, por sua vez, a formação de micotoxinas.

As micotoxinas aparecem em todo tipo de grãos e forragens utilizados para produzir alimentos ou ração para animais. Se acumulam nos cultivos no campo, durante o transporte e durante o armazenamento em condições inadequadas. Além disso, os alimentos para animais podem conter micotoxinas, ainda que os resultados das análises sejam negativos.

Está demostrado que as micotoxinas não se distribuem de forma homogênea pelos alimentos para animais, mas sim concentram em alguns pontos. Isto dificulta a amostragem e faz com que seja possível que não sejam detectadas nas análises, mesmo que sejam seguidos de maneira estrita os protocolos de amostragem.

Portanto, em muitos casos um resultado negativo não representa nenhum tipo de garantia. Além disso, as micotoxinas podem ficar mascaradas nas análises devido a sua união com pequenas moléculas (glicosídeos), o que levaria a um falso negativo.

Estas micotoxinas mascaradas não podem ser detectadas com as técnicas analíticas convencionais. No entanto, as moléculas unidas a elas podem ser separadas durante a digestão, levando à liberação das micotoxinas (com os consequentes efeitos nocivos para o animal).

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Efeitos negativos das micotoxinas na produção animal

Existem várias fontes de informação acerca dos efeitos e sintomas que as micotoxinas provocam nos animais. Deve-se considerar que os efeitos das micotoxinas são muito complexos, podendo produzir sintomas distintos dos que aqui são indicados. Geralmente, os animais jovens são mais suscetíveis que os adultos. No entanto, como ocorre com qualquer regra, sempre há exceções.

O que pode acontecer se os suínos ingerem ração com micotoxinas?

Geralmente, os suínos são mais sensíveis às micotoxinas que os outros animais de criação. As aflatoxinas deprimem o sistema imunológico, sendo o primeiro sintoma da intoxicação por aflatoxinas a redução da quantidade ingerida de ração. Os sintomas, em função do grau de intoxicação, podem variar desde menor crescimento até hepatose ou morte.

Entre os tricotecenos, a deoxinivalenol e a toxina T2 são as micotoxinas mais importantes para o setor da suinocultura. A toxina T2 faz com que o animal deixe de ingerir ração.

A deoxinivalenol também reduz a quantidade de alimento ingerido e o crescimento dos suínos; além disso, provoca vômitos. As ocratoxinas são hepatotóxicas e nefrotóxicas, também podendo provocar outros problemas específicos de longa duração.

Os efeitos da intoxicação por ocratoxinas são os seguintes: crescimento e aumento de peso menores, além de lesões renais.

A zearalenona provoca, principalmente, efeitos estrogênicos nas fêmeas. Nas porcas prenhes faz aumentar o número de abortos e mortes fetais. No restante das fêmeas, as rações contaminadas com zearalenona provocam inflamação e enrijecimento da vulva, falso cio e pseudo gestação.

Por sua vez, as fumonisimas provocam edema pulmonar nos suínos. Os órgãos afetados pelas fumonisinas são o fígado, os pulmões e o pâncreas.

Os rumiantes podem sofrer intoxicação por micotoxinas, porém costuma-se subestimar essa possibilidade

Os efeitos das aflatoxinas, tricotecenos e zearalenona têm a mesma importância nos animais ruminantes, que nos monogástricos; ainda assim, os rumiantes adultos costumam ser mais resistentes aos efeitos das micotoxinas em comparação com os monogástricos. Isto se deve à capacidade de desintoxicação das micotoxinas que têm alguns microorganismos ruminais.

Entre as micotoxinas mais comuns, as aflatoxinas, os tricotecenos e a zearalenona são importantes no caso das vacas. Entre os sintomas da ingestão de ração contaminada por aflatoxinas se incluem os seguintes: redução da quantidade de ração ingerida e leite produzido, diarreia, mastite aguda, perda de peso, transtornos respiratórios, queda de pelo, lesões hepáticas e depressão do sistema imunológico. O AFM1 (um metabolito de uma aflatoxina) é excretado no leite em uma quantidade equivalente a cerca de 1 e 6 % da aflatoxina consumida.

Geralmente, os bezerros são mais sensíveis às aflatoxinas que os animais adultos. Há inúmeros estudos que demonstram que os animais rumiantes são menos sensíveis à deoxinivalenol (DON), já que esta é metabolizada no rúmen, passando para a forma epoxi-deoxinivalenol (menos tóxica). Não obstante, a DON está associada com a redução da quantidade ingerida de ração e a produção de leite nas vacas leiteiras. A toxina T2 produz perda de apetite e de peso, crescimento lento, gastroenterite, redução da produção de leite e depressão do sistema imunológico nos bezerros.

Além disso, a toxina T2 está relacionada com a síndrome hemorrágico intestinal, já que altera o funcionamento do sistema imunológico. Por sua vez, a zearalenona produz transtornos no processo reprodutivo das vacas, ovelhas e outros animais rumiantes, dando lugar a problemas como falso cio, anestro, desenvolvimento mamário prematuro, abortos etc.

As micotoxinas reduzem o rendimento das aves de criação

As aves de criação são animais sensíveis às micotoxinas, que produzem diversos efeitos tóxicos nelas.

Os frangos de corte são mais resistentes às aflatoxinas que outras aves, como os patos, gansos ou perus. As aflatoxinas são as toxinas com maior efeito imunodepressor. Os tricotecenos de tipo A (toxina T, toxina T2 e diacetoxiscirpenol) pressupõem um grave problema para o setor avícola e provocam grandes perdas de produtividade e econômicas. São muito tóxicos para as aves de criação, sobretudo para os frangos, devido ao baixo valor da DL50. Em particular, a toxina T2 faz diminuir a quantidade de ração ingerida, o peso corporal e a postura de ovos; além disso, provoca lesões no bico.

Os filhotes de frango e peru são muito sensíveis às ocratoxinas. Estas nefrotoxinas podem fazer com que deixem de ingerir ração, crescer e por ovos; afetam ainda a qualidade da casca dos ovos.

As fumonisinas estão associadas a taxas de mortalidade elevadas entre as aves de criação. Entre os signais de consumo de ração com fumonisinas estão a redução do peso e da conversão alimentar, assim como o aumento do peso das moelas.

Os efeitos da zearalenona sobre as aves de criação parecem ser menores em comparação com outras espécies, como os suínos, enquanto que as combinações de micotoxinas podem provocar importantes problemas de fertilidade e viabilidade dos ovos.

Conclusões

Ainda que se dedique grandes esforços e amplie as precauções durante os períodos de cultivo, colheira e armazenamento, existe uma probabilidade real de que ocorra contaminação por micotoxinas.

Portanto, a aplicação de procedimentos adequados de desintoxicação após a colheira é um aspecto importante. A incorporação de desativadores de micotoxinas às rações dos animais é uma prática muito habitual de prevenção da micotoxicose.

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